quarta-feira, 25 de maio de 2011

Origens da profissão: Esteticista

No período paleolítico, encontramos fatos expressivos da vida cotidiana (em pinturas rupestres), principalmente da caça, com detalhes exatos dos animais, como chifres, patas, etc. O desejo de tornar-se mais atraente para o sexo oposto ou para sentir-se protegido, amparado ou cuidado, impulsionou o homem para elaboração de pomadas, ungüentos, tinturas, que eram passados em ocasiões especiais. Cabiam às mulheres na divisão social do trabalho nas tribos a função de cuidar.

          No ano de 1799, o descobrimento da pedra de Roseta permitiu a Champollion decifrar os hieróglifos (escrita egípcia), possibilitando a leitura de relevos em templos, tumbas, colunas, pirâmides, como também de papiros encontrados em escavações arqueológicas. Nos papiros egípcios foi decifrada uma infinidade de receitas de beleza: a fuligem de carvão misturada com gordura de ganso para maquiar os olhos, o cobre verde-esmeralda pulverizado para sombrear os olhos, etc. (POESIA, 1995).
           Às vezes, a matéria-prima encontrada era venenosa, como restos achados nas caixas de cosméticos que continham resíduos de magnésio, enxofre, antimônio, vitríolo e salitre. O antimônio vermelho era usado para colorir os lábios. Supõe-se que a intenção era embelezamento, sendo verdade que também utilizavam o cosmético para proteger-se do sol e do vento. Os antigos egípcios pulverizavam a areia ou a pedra-pomes e misturavam com óleo, pois a mistura deixava a pele mais suave (o que hoje chamamos de esfoliação cutânea). Suas máscaras de beleza eram feitas com barro do Nilo misturado com vegetais aromáticos triturados, mais gordura de ganso, suco de frutas, mel, até excremento de crocodilo chegou a fazer parte da composição. (ASHCAR; FARIA 2006).
           Ao observar os relevos egípcios, pode-se ver a importância que davam ao adorno corporal, à beleza e à estética. Tem-se como ícone da beleza da época a rainha Nefertite (da XVIII dinastia – 1380-1345 a.C.). Mais tarde, nos anos 69-30 a.C., Cleópatra, rainha de Alexandria, também é considerada um ícone da beleza e vaidade.
          Heródoto, historiador grego, em sua obra Histórias de Heródoto, destaca uma série de profissões mais populares na época como: embalsamador, escribas, perfumistas, médicos, escravas especialistas em massagens e banhos (provavelmente uma das origens da profissão esteticista). Numerosos instrumentos de sílex (rocha sedimentar silicatada de quartzo muito utilizada no período neolítico para confecção de instrumentos e utensílios) utilizados para cosméticos foram encontrados e estão distribuídos por museus no mundo todo. Eram paletas usadas para misturar pigmentos, diluir cosméticos, etc. Um dos cosméticos mais usados era o  kohol ou kajal (mistura de um pó negro, geralmente carvão vegetal e óleo para contornar os olhos) (FIGUEIREDO, [s. d.])

          No Séc. V a.C., na Grécia antiga, a beleza era muito cultuada, principalmente na cultura ateniense, onde o cuidado pessoal estava ligado à higiene e era tão popularizado que em todas as cidades haviam casas de banhos públicos, aos quais toda a população tinha acesso. Após o banho, realizava-se uma massagem, um complemento obrigatório, de acordo com Ashcar e Faria (2006). A mulher grega era voltada ao cuidado doméstico, dedicada à conservação de sua beleza, e os homens treinavam o físico para lutas. O modo de vida influenciou a constituição física do grego; a representação plástica dos corpos mostrava o ideal perfeito de beleza. Os escravos especialistas em massagens e cuidados estéticos valiam economicamente o dobro dos outros, em virtude do valor atribuído à beleza pelos atenienses. As jovens escravas massagistas eram especialistas também em cuidados com a pele, esfregavam a pele de seus amos para suavizá-la. Também realizavam a depilação dos pelos corporais, prática adotada do antigo Egito e posteriormente desenvolvida entre os romanos. (ASHCAR; FARIA 2006).
          A partir do ano 27 a.C. até meados do Séc. III d.C., Roma alcança seu apogeu, sempre adotando os costumes refinados do Egito e Grécia, assim como a arte de embelezar-se, preferindo as escravas egípcias e gregas, que realizavam todo o cuidado relativo à estética. Cabia aos escravos e barbeiros a prática do cuidar, incluindo práticas de higiene pessoal, banhos, massagens, odorização corporal. Os romanos eram adeptos dos banhos públicos e construíram as famosas termas para esta prática de saúde. As mulheres romanas passavam metade do dia entre banhos, termas, massagens, cuidados estéticos com a pele, cabelos e unhas, e a outra metade do dia, em banquetes e festas. Alguns filósofos criticaram a superficialidade e frivolidade das mulheres romanas. Como podemos observar, a estética sempre esteve associada à vaidade, superficialidade ou higiene pessoal.
          Durante a expansão do império romano, quando chegaram a Roma as prisioneiras ruivas da Germânia, as romanas solicitaram às escravas que desenvolvessem um produto que deixasse seus cabelos com idêntica tonalidade, pois as escravas tinham conhecimento do emprego de plantas e henna. As escravas realizavam penteados elaborados, maquiagem (pintando lábios e bochechas de vermelho), dominavam o uso do kajal, e usavam pigmento turquesa nas pálpebras superiores. As escravas que desempenhavam o trabalho tinham outra escrava chefe, que supervisionava a perfeita execução do serviço. Esse cargo era dado à escrava que demonstrava habilidade como cabeleireira, maquiadora, massagista, conhecedora de cosméticos, venenos, ervas e perfumes.
Pérsia e Arábia produziram grandes quantidades de perfumes e sedas. Durante o império Bizantino, no reinado de Justiniano (527-565), sua esposa Teodora ficou conhecida por sua vaidade e beleza, e adotou os costumes das romanas. A matéria prima dos cosméticos era à base de gordura animal (cordeiros, gazelas) misturada com mirra. Era muito popular o uso de compressas quentes no rosto e, por cima dessa camada generosa de cosmético, aplicava-se uma máscara de barro (argila), vinda do Egito, que era deixada até a secagem. (similar às nossas máscaras cosméticas atuais), todo o trabalho executado por escravas.
          No Oriente a prática da massagem com óleos e ervas é milenar. Na Índia é tradição a mãe fazer massagem ayurvédica com óleo de gergelim, oliva ou côco nos seus filhos diariamente até que completem sete anos. A prática também é comum entre familiares. Na China, Japão e Indonésia sempre se praticou massagens terapêuticas como shiatsu, do-in, tui-na. Na antiguidade eram práticas passadas de geração para geração empiricamente.

     
 Durante a Idade Média, a severidade do clero provocou austeridade, o culto ao corpo e a beleza foram culpabilizados com a noção de pecado. O banho foi eliminado o que ocasionou doenças epidêmicas e mortes por falta de higiene. Ocorreu um retrocesso nas práticas de saúde.
 O Renascimento traz uma época de representações artísticas e a volta da valoração do belo. O banho continua não sendo um hábito na Europa, mas o cheiro corporal é camuflado por intensos perfumes. Os médicos da época desenvolveram produtos antiperspirantes à base de plantas e cremes que clareavam a pele, assim como produtos para higiene bucal. A fixação pelo cabelo ruivo chega ao ápice, o que caracterizou uma época e um país: Veneza. A coloração era chamada “ruivo veneziano”. A Itália, em 1600, marca época: a cosmética cresceu com novas contribuições, conseqüência dos estudos em alquimia. Médicos e monges buscavam transmutar metais em ouro, o que levou a outros descobrimentos, como a água destilada e o álcool.
          A França destaca-se no século XVIII como vanguardista em cosméticos, moda e perfumes. Todo um aparato industrial foi montado para servir o inconstante capricho da beleza. A partir da revolução francesa ideais como nacionalismo, individualismo econômico e soberania das massas vieram à tona contra a monarquia. Em 1760 inicia-se a revolução industrial que se estabelece a partir do Séc. XIX. Provisoriamente, abandonaram-se cosméticos e perfumes, que ressurgiram com o culto à beleza praticada por Josefina. Os cosméticos deixam de ser uma elaboração artesanal para serem industrializados em larga escala. A partir deste século, começa a pesquisa científica aplicada à indústria de cosmético. Químicos colaboram com cabeleireiros e cosmetólogas e surgem entidades dedicadas à beleza. A consolidação do capitalismo é feita através dos conhecimentos científicos e tecnológicos em favor do desenvolvimento do sistema de produção. A política mercantilista acelerou o crescimento e urbanização da sociedade ocidental, promoveu melhoria no padrão de vida populacional com adoção de melhores hábitos de higiene. Os avanços das ciências naturais e tecnologias dividiram tecnicamente o trabalho em saúde originando as várias ocupações na área da saúde, entre elas a cosmetologia e estética. Surgem então, em meados de 1900, nomes pioneiros de mulheres interessadas em transformar o mercado da beleza, oferecendo beleza como bem de consumo.

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